Zapeando na tv dia desses, assisti a um filme improvável: “Poesia”. É um filme coreano e o filme faz jus ao título. A história gira em torno de uma mulher, solitária, mais velha e pobre, que cuida de um neto monossilábico e adolescente. Uma vida ordinária, no sentido mais cru e denotativo da palavra. Ela vive de pensão, numa casa pequena e simples, o neto raramente lhe dirige a palavra e só fica dentro do quarto ou vendo tv. Ela faz faxina para ajudar no orçamento de casa.
À medida em que ela descobre que a vida pode, sim, ser pior - como a descoberta do Alzheimer e de que seu neto é um delinquente - essa mulher se esforça para ver um mundo melhor. O prisma que ela encontra é a poesia. Além disso, ela se veste com primor: saias, chapéus, salto alto, a pele e o cabelo sempre impecáveis. A vida para ela, todos os dias, é um encontro, com a própria vida. Aquela mulher deseja ser melhor, e expressa, através do seu comportamento, essa vontade. Frequenta aulas de poesia – e embora tenha dificuldade em compor poemas, talvez um reflexo do mundo em que viva – ela se esforça para conseguir compor seu primeiro trabalho. E não se vende pelo preço melhor, conforme o filme mostra no final.
Apaixonei-me pelo filme. Porque não nos esforçamos também para extrair da vida o que ela tem de melhor? Porque abrimos mão da dignidade se for o mais conveniente e nos vendemos pela melhor oferta?
O filme é uma metáfora sobre a vida. Sobre a escolha entre lamentar-se ou celebrar a vida. Uma ficção, eu sei. Mas sei também que na vida real, há muitas pessoas assim. E é nesses exemplos que desejo me mirar. Exemplos ruins há de sobra. Mas espelhar-se no que há de bom, vestir-se bem, sorrir, escrever poesia, perfumar-se, ver a beleza na vida, na chuva - apesar de...- é a verdadeira poesia da vida, mesmo que a dura realidade diga o contrário. Recomendo.