segunda-feira, 26 de março de 2012

      Zapeando na tv dia desses, assisti a um filme improvável: “Poesia”. É um filme coreano e o filme faz jus ao título.  A história gira em torno de uma mulher, solitária, mais velha e pobre, que cuida de um neto monossilábico  e adolescente. Uma vida ordinária, no sentido mais cru e denotativo da palavra. Ela vive de pensão, numa casa pequena e simples, o neto raramente lhe dirige a palavra e só fica dentro do quarto ou vendo tv.  Ela faz faxina para ajudar no orçamento de casa.

       À medida em que ela descobre que a vida pode, sim, ser pior -  como a descoberta do Alzheimer e de que seu neto é um delinquente -   essa mulher se esforça para ver um mundo melhor. O prisma que ela encontra é a poesia.  Além disso, ela se veste com primor: saias, chapéus, salto alto, a pele e o cabelo sempre impecáveis. A vida para ela, todos os dias, é um encontro, com a própria vida. Aquela mulher deseja ser melhor, e expressa, através do seu comportamento, essa vontade.  Frequenta aulas de poesia – e embora tenha dificuldade em compor poemas, talvez um reflexo do mundo em que viva – ela se esforça para conseguir compor seu primeiro trabalho. E não se vende pelo preço melhor, conforme o filme mostra no final.

       Apaixonei-me pelo filme. Porque não nos esforçamos também  para extrair da vida o que ela tem de melhor? Porque abrimos mão da dignidade se for o mais conveniente e nos vendemos pela melhor oferta?

       O filme é uma metáfora sobre a vida. Sobre a escolha entre lamentar-se ou celebrar a vida. Uma ficção, eu sei.  Mas sei também que na vida real, há muitas pessoas assim. E é nesses exemplos que desejo me mirar. Exemplos ruins há de sobra. Mas espelhar-se no que há de bom, vestir-se bem, sorrir, escrever poesia, perfumar-se, ver a beleza na vida, na chuva - apesar de...- é a verdadeira poesia da vida, mesmo que a dura realidade  diga o contrário. Recomendo.