domingo, 5 de fevereiro de 2012

O príncipe e o sapo
A pobreza e o excesso de limites em casa, quando criança, sempre me impediram sonhar. Fui daquelas crianças bem  realistas. Nunca fui  fã do Menudo (a histeria da minha época) e nunca, jamais sonhei em ser uma paquita, pois no fundo, bem lá no fundo, eu sabia que gordinha, baixinha, moreníssima, pobre, e pior, com pais supercastradores, eu jamais teria chance de chegar perto disso, mesmo nos meus mais remotos sonhos. Além do mais, eu sabia que tudo aquilo era um sonho fabricado. Era lindo, mas fabricado. perder tempo para que?
A minha primeira coca-cola eu tomei lá pelos 14, 15 anos de idade. O meu primeiro McDonald’s inteiro também – um dia eu paro para contar o porquê do “inteiro”.
O meu sonho era crescer, poder estudar – coisa que também em casa não era visto com bons olhos – trabalhar e conseguir comprar um par de sapatos decente. Não. Eu não estou fazendo piada.
Cresci. Estudei. Passei no vestibular de universidade federal pois, embora fosse bem burrinha, eu sabia que meus pais jamais custeariam uma faculdade particular para mim, pois não viam a educação com bons olhos, afinal,  mulher que estuda vira prostituta, pois fica independente e transa com quantos homens quer...”. Em tempo:  meus pais são pessoas muito boas, mas antigas. Para se ter uma ideia, minha mãe é daquelas que acha que uma mulher deve apanhar do marido, esconder o olho roxo com óculos escuros e ainda agradecer por ele não abandoná-la. E  não estou exagerando. Assim,  nem sequer cogitei fazer vestibular numa faculdade particular. Na segunda tentativa, passei. Foi uma libertação em muitos sentidos.
Nunca sonhei com nenhum príncipe encantado. Sonhava, no máximo, com alguém que entendesse minhas limitações, meus defeitos, e que sobretudo, suportasse minha família com toda carga negativa que eles carregavam em relação à mulher.
Nunca encontrei. Namorei, casei, tive dois filhos lindos sem planejá-los. Aconteceram. Carrego esta culpa. O príncipe encantado nunca veio. Constatei também que, à minha volta,  aconteceu o mesmo com todas as mulheres. Fui ficando cada vez mais forte com cada decepção e  descobrindo que sou mais homem do que todos os homens que passaram pela minha vida. Juntos. Fui descobrindo, aos poucos, que o príncipe encantando está dentro de mim. Sou eu mesma. Como Ying e yang. Não sei se é frustrante ou gratificante saber que ele não existe. Ainda não sei o que fazer com esta informação. Estou tentando descobrir.  Quando descobrir eu conto.

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