domingo, 28 de agosto de 2016

Meu filho cresceu

Meu filho primogênito está com 15 anos de idade. Sinto-o esvaindo-se. Parece que o meu bebê, o meu filho, aquele que a mim recorria, que esperava algo de mim, que conversava comigo, simplesmente...morreu ou foi raptado, abduzido e em seu lugar colocaram uma outra pessoa que é totalmente indiferente a mim.
Em sua carteira, uma foto dele e do pai. Nada mais. Acabou de postar no instagram uma foto dele com o pai...numa das raras ocasiões em que se dirigiu a mim recentemente, foi para perguntar como se escreve papai em inglês. E eu respondi e quando vi, estava lá, uma foto dele, com pai e a frase "daddy, esse cara é foda...." e um coração. Um coração!!!! 
Tudo o que peço fica em segunda plano. Tudo o que eu faço é ridicularizado. Sigo caminhando e sei que ele precisa desse tempo para crescer. Para se tornar quem ele será. Mas dói. Vasculho dentro de mim enquanto procuro respostas. Só me sobrou o caçula. E enquanto eu tento não me agarrar a ele e sufocá-lo com minha solidão, estremeço quando penso que em talvez 5 anos ou menos o comportamento dele se torne igual ao do irmão...Quando esta época chegar, espero que meu primogênito já tenha sido devolvido à terra e me console enquanto espero que o caçula também retorne à terra. 

terça-feira, 9 de agosto de 2016

Diversas faces

Este blog já teve diversos nomes. Mas passei por diversas mudanças por todo esse tempo. Assim, fui mudando o nome de acordo com a borboleta que surgia após cada metamorfose. Mas a minha essência permanece a mesma. Aqui estou eu novamente, pronta para voar, e quem sabe, sofrer outra metamorfose novamente. Quantas vezes necessário for...

Ninguém
 disse
 que
o
 caminho
 é
 fácil.

Vendo entrevista do Nasi do Ira pelo Youtube. Amava o IRA!...e eu ficando velha, velha, velha....

terça-feira, 27 de janeiro de 2015

Livros que estou lendo

A era do ressentimento, de Luiz Felipe Pondé e A Cabana , do Young. mais adiante quero falar sobre eles.

Férias....

Não existe nada melhor. Beijos e beijos e beijos dos meus filhos quando bem entendo. Abraços. Não tenho que esperar chegar em casa. Não tenho que esperar chegarem da escola. Meu primogênito fez 14 anos ontem. Está um rapazinho e eu uma mãe babona. Meu caçula um docinho de coco queimado, porque chegamos do Rio de Janeiro e ele ficou todo bronzeadinho, mesmo usando protetor 50!!!!

segunda-feira, 8 de setembro de 2014

Desqualificando para ser "feliz"

Quando aponto defeitos nos outros, estou, na verdade, desejando me sentir melhor. Quanto aponto defeitos nos outros, estou, na verdade, dizendo para mim mesma, com toda insegurança inerente ao ato, que sou melhor do que aquela pessoa.  Fazer o contrário é um exercício diário porque nossa natureza é perversa, má e insegura. Nossa insegurança inerente diz que o vizinho que trocou de carro - e esse ano eu não pude fazer isso, e nem no ano passado... - está envolvido em algo ilícito porque afinal e contas, eu, honesto, não consegui o mesmo feito. Não sei das noites insones, das madrugadas já acordado, das renúncias...mas afinal, que importa. Importa que eu seja melhor apontando o defeito do outro ou que o que o outro tem não é merecido.

"Amigos" fazem isso. "Não quero ser funcionária pública. Estudei muito para jogar meu diploma no lixo". Eu sou funcionária pública com orgulho. Trabalho duro hoje. E também estudei muito. Duas vezes: para conseguir meu diploma e para passar no concurso. Mas minha amiga se vê no direito de me criticar. Por dentro eu sorrio. Nem a casa em que ela mora sequer é dela. Mas ela se vê no direito de criticar de onde eu e meu marido tiramos o sustento da minha família.

"Meu filho é mais alto do que o seu". Diz uma amiga todas as vezes que tem oportunidade. Já sei. Respondo. Ela me diz de novo. De novo. E de novo.  "Meu filho de 13 anos já está na décima namorada e o seu nem beijou ainda" "só fica em casa jogando, desse jeito vai morrer boca virgem...."  Não sei se quero que meu filho saia por aí, precocemente, aos treze anos de idade, e sem maturidade sexual alguma, beijando meninas, para provar alguma coisa. Imagino que se ele quisesse, teria feito esforços em direção a isso. Não vou joga-lo na rua para se enquadrar a um padrão estabelecido por uma pessoa que tem tantas ideias duvidosas a respeito da vida. Dou graças a Deus por ele ficar em casa jogando, pois todas as outras atividades normais ele faz: pratica esporte, faz inglês e o tempo restante ele vai para casa...jogar!! Acredito que as coisas acontecerão naturalmente. Será que meu filho vai ter que sair com alguma menina, de quem ele NAO gosta,  para provar alguma coisa para uma pessoa cuja autoestima é questionável a ponto de ser essencial para ela desqualificar para se sentir melhor?

 Se for um desejo dele, tudo bem. Mas para provar a essa amiga....não sei. Meu filho está preocupado, na verdade é ....em ser feliz....e é com ele que tenho aprendido... Uma vez essa mesma pessoa me disse como trabalhava a autoestima de seu filho. Era assim: "Não fica triste, você é o mais bonito da sala. Olha como os outros meninos são todos feios se comparados a você..."....Fiquei estarrecida. Primeiro porque ela teve coragem de me dizer isso, quando meu filho era da sala do filho dela. Segundo: a autoestima do filho dela estava diretamente relacionada à desqualificação do outro. Quer dizer que mesmo que isso fosse verdade, quando aquela criatura encontrasse alguém que ele julgasse "mais feia, ou inferior (em que????)" do que ele, talvez pulasse de algum prédio. Seria dolorido demais. Imediatamente eu disse: "Não acredito que você compara seu filho com os outros.É dolorido demais...."...ela me disse: "não estou nem aí.". Com essa pessoa aprendi a ensinar meu filho a dar o melhor de si. A ser o melhor...que ele puder ser, e não melhor do que o outro.  Com meu filho mais velho tenho aprendido a ser simplesmente FELIZ. Ele é um menino simples. Vive a vida. Sem anseios. Sem se comparar. Claro que digo a ele que ele é LINDO. E é mesmo, mas jamais faria com ele a crueldade de dizer: "olha como fulano é feio se comparado a você"  Há algumas semanas ele me disse: "Mãe, sou o menino mais feliz do mundo". Ele não se acha superior ou inferior a ninguém....E me treino para ver no meu filho um ser humano normal, com falhas, desejos, qualidades. Nem melhor, nem pior.  Sem desqualificar o outro. Simplesmente feliz. E quando olho para meu filho, e ele me diz que é feliz - o mais feliz do mundo - sinto que a batalha está sendo ganha. MAS do jeito certo. Acho que foi Rubem Alves que disse que da comparação nasce a infelicidade. Acho que concordo integralmente com o que ele disse.

terça-feira, 29 de julho de 2014

Amor pelos livros

Amo ler. Talvez pela limitação do mundo real. Talvez para fugir da realidade. Talvez por tantos outros motivos. Mas o fato é que amo ler. Amo Rubem Alves - muito antes de sua morte tão triste e tão recente -, amo Machado de Assis - meu companheiro de adolescência solitária. Amo as letras tanto que fiz o curso de Letras  por acreditar nelas. Mas a verdade é que quem realmente me ensinou a ter amor pelas histórias foi meu pai. Um homem que estudou somente até a quarta série, naquelas escolas rurais tão precárias. Ele, à noite, após o jantar e o dever, lia para mim histórias de um único livro: a história do compadre Tatu e da Comadre Formiga. Era um livro da receita federal, ensinava as pessoas a importância de pagar impostos. E meu pai, com toda sua simplicidade, usava aquele  livro para contar hist´rias para sua filha á noite, antes de dormir. Não podia comprar um livro de história. Mas na minha cabeça, aquela era a história mais linda que a da Branca de neve ou de Cinderela. Não tinha quase enredo, não tinha ápice, nem quase desfecho. Mas meu pai entonava as vozes e interpretava com maestria e minha cabeça infantil sonhava...Outras vezes ele inventava histórias da sua cabeça e cada dia a  mesma história tinha finais diferentes...Esse foi o homem que me ensinou a ter amor pelas letras, pela imaginação. Hoje olho para ele grata e fico imaginando o que se passava naquela cabecinha hoje branca. Um homem rude, mas que sabia amar. Olho os meus filhos cansada, após um dia de serviço, quando eles pedem atenção, e fico com pena de dizer não, quando penso que meu pai não dizia não. Amo ler. E o culpado é meu pai. Seu Zezinho: eu te amo. Por essas e por outras razões mais.

segunda-feira, 28 de julho de 2014

Rubem Alves



Dia 19 de julho faleceu meu escritor favorito. Eu tinha orgulho ao ler seus livros e pensar que aquela pessoa, com quem eu compartilhava tantas ideias, estava vivo andando por aí. Como eu. Sofri como se fosse alguém da minha família. Eu tinha um imenso carinho por ele. Ele disse muitas coisas que eu gostaria de ter dito. Além do mais, ele era velhinho como meu pai, a quem tanto amo.
No país da bunda, Rubem Alves pregava a educação, e no entanto, nunca o vi criticando nada disso. Mas ele apenas pregava isso: a cultura. Será que por isso foi lembrado algumas vezes como autor de "auto-ajuda"? Ele era um maravilhoso cronista do cotidiano. Escrevia sobre a alma. Escrevia sobre o coração. Sentimentos. Dor. Sobre ver a beleza em qualquer tempo e lugar. Estou de luto. Meu coração está profundamente triste.
Ele deixou muitos órfãos. Constatei isso nas redes sociais.  Cada um de nós, seus leitores, sentia-se íntimo dele. E cada um de nós sentiu essa perda muito profundamente.
Li uma passagem de um ex- pastor - a quem sempre respeitei - dizendo que ele era uma pessoa amarga...quem é essa pessoa para falar de Rubem Alves, se com ele também aprendi sobre a boa vontade de enxergar a doçura da vida? A doçura de ouvir a palavra guarda -comidas e isso desencadear sentimentos mais ocultos, a doçura de aprender a amar os ipês amarelos, a doçura de aprender a comer morangos mesmo estando à beira do precipício? Essa pessoa não conheceu Rubem Alves. Quem o leu conheceu sua obra. Quem o leu o conheceu intimamente.
Ele pediu que suas cinzas fossem jogadas aos pés de um ipê. Sua vontade foi atendida.
Descanse em paz, Maestro.

segunda-feira, 10 de fevereiro de 2014

Segunda-feira. Olho no espelho e vejo uma mulher prestes a fazer 40 anos. Meus cabelos estão com muitos fios brancos. Tenho estado com uma preguiça tremenda de tingi-los. Para que preciso  mesmo tingir meus cabelos? Ah! Sim...para me adaptar a um padrão estético que diz que as mulheres têm que ser jovens eternamente. E a mulher que pinta os cabelos demonstra que cuida de si. Olho a tintura na gaveta do armário e não sinto vontade...quem sabe na próxima semana....
Não vejo problema algum em pintar - quem gosta, que o faça e seja feliz - mas qual o problema com meus fios brancos? Adoro perfume, batom cor-de-boca, protetor solar, que uso diariamente e religiosamente, mas tudo isso para realçar e manter uma aparência aceitável para mim mesma. Sinto que não estou escondendo nada.  E receio parecer algo que não sou. Não quero parecer ter 20 aninhos...esses já foram e foram muito bons, mas se foram ora...
Melhor deixar a tintura quieta na gaveta. Quando vier a vontade, tenho duas opções: ou sento e espero passar, ou pinto, e me rendo à juventude artificial...

segunda-feira, 26 de março de 2012

      Zapeando na tv dia desses, assisti a um filme improvável: “Poesia”. É um filme coreano e o filme faz jus ao título.  A história gira em torno de uma mulher, solitária, mais velha e pobre, que cuida de um neto monossilábico  e adolescente. Uma vida ordinária, no sentido mais cru e denotativo da palavra. Ela vive de pensão, numa casa pequena e simples, o neto raramente lhe dirige a palavra e só fica dentro do quarto ou vendo tv.  Ela faz faxina para ajudar no orçamento de casa.

       À medida em que ela descobre que a vida pode, sim, ser pior -  como a descoberta do Alzheimer e de que seu neto é um delinquente -   essa mulher se esforça para ver um mundo melhor. O prisma que ela encontra é a poesia.  Além disso, ela se veste com primor: saias, chapéus, salto alto, a pele e o cabelo sempre impecáveis. A vida para ela, todos os dias, é um encontro, com a própria vida. Aquela mulher deseja ser melhor, e expressa, através do seu comportamento, essa vontade.  Frequenta aulas de poesia – e embora tenha dificuldade em compor poemas, talvez um reflexo do mundo em que viva – ela se esforça para conseguir compor seu primeiro trabalho. E não se vende pelo preço melhor, conforme o filme mostra no final.

       Apaixonei-me pelo filme. Porque não nos esforçamos também  para extrair da vida o que ela tem de melhor? Porque abrimos mão da dignidade se for o mais conveniente e nos vendemos pela melhor oferta?

       O filme é uma metáfora sobre a vida. Sobre a escolha entre lamentar-se ou celebrar a vida. Uma ficção, eu sei.  Mas sei também que na vida real, há muitas pessoas assim. E é nesses exemplos que desejo me mirar. Exemplos ruins há de sobra. Mas espelhar-se no que há de bom, vestir-se bem, sorrir, escrever poesia, perfumar-se, ver a beleza na vida, na chuva - apesar de...- é a verdadeira poesia da vida, mesmo que a dura realidade  diga o contrário. Recomendo.

terça-feira, 28 de fevereiro de 2012

O caso do jet ski

O caso da garotinha Graziely, que foi atropelada e morta por um jet ski de forma tão brutal, foi emblemático  do que ocorre em nosso país.  O suspeito de ter atropelado e  matado Graziely provavelmente foi outra criança de 14 anos de idade. Dói ver a mãe dela falar sobre a perda da filha para o vazio. Sabemos que não há e nem haverá respostas. Nem das autoridades, nem dos culpados – o menor de idade e seus pais, responsáveis, em tese, por ele.
As perspectivas de punição são irrisórias, para não dizer zero. Simplesmente não há lei que trate do tema. Menores de idade não podem ser punidos. Cumprirá, se muito, uma “medida socioeducativa”. Após, deverá ser enviado para o exterior para se desestressar pelo “contratempo” ocorrido – quem não se lembra dos assassinos do índio Galdino e do chinês, estudante de medicina, ambos brutalmente assassinados por “meninos inocentes” , sendo que pelo menos um deles houve notícia de que foi enviado para os Estados Unidos pela família, tendo em vista que ficou muito estressado com o ocorrido e hoje os assassinos do chinês são médicos, atuantes, impunes. Azar das vidas que se foram e da famílias que restaram destroçadas.
Temos três soluções. A primeira é tentar mudar esta situação caótica nas urnas. Colocando no congresso pessoas que nunca estiveram lá, capazes.  E tirando aqueles que lá estão há anos e nada, absolutamente nada fizeram pelo nosso país. A segunda, andar sempre na linha, porque sem padrinho, nem pai rico, se fizermos algo de errado e formos pobres, pagaremos, caso contrário, se tiver padrinho você não morre pagão. A terceira - como país predominantemente  cristão que somos - orar, rezar e pedir que Deus olhe por nós, porque isso, as nossas autoridades não fazem. Infelizmente.  

quinta-feira, 23 de fevereiro de 2012

“Fulano está em Belo Horizonte neste fim de semana para um evento, você viu?” – perguntou uma conhecida. “Quem?” – perguntei de volta – “Não conheço”. “Não??! Não é possível, você não assiste o Zorra Total?” . Ao perceber que estava sendo observada como um ET, sendo considerada blazé e esnobe, mudei rapidamente de assunto.
Não, eu não assisto Zorra Total. Tenho inúmeros motivos para não assistir: casa, filhos, marido, trabalho, faculdade e concurso. Meu tempo não é muito grande e quando paro em frente à TV, que aliás adoro, é para ver coisas produtivas, como um bom filme, por exemplo.
Nossa era passa por uma crise de identidade e de valores muito grande. Chegamos ao ponto de nos sentirmos excluídos, pois em qualquer lugar o assunto é tal Zorra Total, o paredão do “Big Brother”, ou o eliminado em “A fazenda”. Até mesmo pessoas dotadas de discernimento ficam reféns deste tipo de coisa. Abrimos o jornal ou a revista preferida na internet e lá vem notícias e mais notícias sobre esse tipo de entretenimento barato. Eu não quero saber quem foi eliminado. Não me interessa, ora bolas.
Outro dia vi uma notícia de que uma pessoa havia desenvolvido um software para barrar este tipo de notícia nos nossos computadores e não sermos obrigados a conviver com isso. E, pasmem, a invenção e a notícia, nos comentários logo após,  tiveram grande aprovação dos leitores que se diziam aliviados com o fato de não serem obrigados a conviver com noticias que não queriam ler. Percebi que não estava sozinha. Há luz, enfim,  no fim do túnel.

segunda-feira, 13 de fevereiro de 2012

MEDO DE AVIÃO

Sempre tive medo de avião. Se for viajar de dia não consigo relaxar. Se o voo é noturno, não consigo dormir. Como se o fato de ficar acordada fosse revolver alguma coisa. Aos que me perguntam o porquê, eu sempre disse que era horrível a sensação de não ter o controle sobre sua própria vida.
Mas dia desses assisti a uma entrevista com a psiquiatra Ana Beatriz Barbosa, em que ela dizia que o controle da situação é uma ilusão. A mais pura verdade.
Ayrton Senna, Steve Jobs... Todos eles poderosos, e no entanto, tão frágeis diante do incontrolável.  Extremamente vulneráveis na sua humanidade. E não estão mais andando por aí para provar isso.
O ser humano é um ser incompleto, frágil e impotente. É um ser faltante. Seja rico, pobre, dotado de inteligência sobre-humana ou desprovido dela. Quando se começa a pensar no quanto não temos controle da situação, chega a ficar ridículo.
Hoje não posso dizer que adoro voar. Mas o medo de voar não me apavora mais, pois estou consciente de que o controle real da vida não está em nossas mãos. O destino é genioso  como a água: ele abre seu caminho e vai por onde quer. Quando chegar a nosso hora, ele vai dar um jeito de se encontrar conosco.

domingo, 5 de fevereiro de 2012

O príncipe e o sapo
A pobreza e o excesso de limites em casa, quando criança, sempre me impediram sonhar. Fui daquelas crianças bem  realistas. Nunca fui  fã do Menudo (a histeria da minha época) e nunca, jamais sonhei em ser uma paquita, pois no fundo, bem lá no fundo, eu sabia que gordinha, baixinha, moreníssima, pobre, e pior, com pais supercastradores, eu jamais teria chance de chegar perto disso, mesmo nos meus mais remotos sonhos. Além do mais, eu sabia que tudo aquilo era um sonho fabricado. Era lindo, mas fabricado. perder tempo para que?
A minha primeira coca-cola eu tomei lá pelos 14, 15 anos de idade. O meu primeiro McDonald’s inteiro também – um dia eu paro para contar o porquê do “inteiro”.
O meu sonho era crescer, poder estudar – coisa que também em casa não era visto com bons olhos – trabalhar e conseguir comprar um par de sapatos decente. Não. Eu não estou fazendo piada.
Cresci. Estudei. Passei no vestibular de universidade federal pois, embora fosse bem burrinha, eu sabia que meus pais jamais custeariam uma faculdade particular para mim, pois não viam a educação com bons olhos, afinal,  mulher que estuda vira prostituta, pois fica independente e transa com quantos homens quer...”. Em tempo:  meus pais são pessoas muito boas, mas antigas. Para se ter uma ideia, minha mãe é daquelas que acha que uma mulher deve apanhar do marido, esconder o olho roxo com óculos escuros e ainda agradecer por ele não abandoná-la. E  não estou exagerando. Assim,  nem sequer cogitei fazer vestibular numa faculdade particular. Na segunda tentativa, passei. Foi uma libertação em muitos sentidos.
Nunca sonhei com nenhum príncipe encantado. Sonhava, no máximo, com alguém que entendesse minhas limitações, meus defeitos, e que sobretudo, suportasse minha família com toda carga negativa que eles carregavam em relação à mulher.
Nunca encontrei. Namorei, casei, tive dois filhos lindos sem planejá-los. Aconteceram. Carrego esta culpa. O príncipe encantado nunca veio. Constatei também que, à minha volta,  aconteceu o mesmo com todas as mulheres. Fui ficando cada vez mais forte com cada decepção e  descobrindo que sou mais homem do que todos os homens que passaram pela minha vida. Juntos. Fui descobrindo, aos poucos, que o príncipe encantando está dentro de mim. Sou eu mesma. Como Ying e yang. Não sei se é frustrante ou gratificante saber que ele não existe. Ainda não sei o que fazer com esta informação. Estou tentando descobrir.  Quando descobrir eu conto.